Gestão, IA e a Serpente em forma de filosofia: A Advocacia Precisa Parar de Comer a Própria Cauda

Paul Valéry, com sua sensibilidade poética e filosófica, nos entrega uma metáfora profunda e provocadora: a serpente que come a própria cauda. Uma imagem ancestral — o ouroboros — que, em sua versão valeryana, torna-se uma crítica velada aos ciclos de conhecimento que se encerram em si mesmos, criando um eterno retorno que, ao invés de iluminar, consome.

Ele diz: “Depois de um longo tempo mastigando, ela reconhece no que come o próprio gosto; e aí para de se engolir. Daí a instantes, contudo, não tendo mais do que se alimentar, volta a se devorar, em um círculo autodigestivo.” É o conhecimento que se basta, que se reproduz a partir de si, sem diálogo com o novo, com o outro, com o diferente. Em suma: o conhecimento que não se aplica, apenas se contempla.

Mas o que essa serpente tem a ver com o mundo jurídico contemporâneo? Tudo.

A serpente nos escritórios de advocacia: ciclos que se retroalimentam

Em muitos escritórios e departamentos jurídicos, vejo esse ciclo se repetir diariamente. Normas, doutrinas, decisões — todas mastigadas, reprocessadas e regurgitadas num ciclo que raramente se abre ao novo. Advogados que decoram o direito, mas não o vivem. Escritórios que repetem estratégias de marketing de dez anos atrás, ignorando os sinais claros do mundo digital. Gestores que replicam modelos administrativos antigos, sem perceber que os fluxos de trabalho estão mudando.

É a serpente, mais uma vez, se alimentando de si mesma.

Mas o problema não está em mastigar o próprio corpo — está em não reconhecer o sabor do que se ingere. Está em não parar para refletir quando o gosto é conhecido. E está, principalmente, em voltar ao ciclo por medo do vazio, por receio do novo.

Filosofia, conhecimento e o salto necessário

Valéry nos dá a deixa: “É o que se chama uma teoria do conhecimento.” A teoria que se fecha em si. Kant já nos alertava que o conhecimento precisa de sensibilidade e entendimento — dados e estrutura. Mas se ficarmos apenas no entendimento lógico e racional, ignorando a sensibilidade do contexto, da cultura, da transformação tecnológica, estaremos apenas reafirmando velhos dogmas.

Nietzsche, por sua vez, falaria da transvaloração dos valores. Em outras palavras, da necessidade de destruir certezas para que novas verdades possam nascer. A serpente precisa parar de se devorar para que possa se mover — ainda que em direção ao desconhecido.

Na gestão, a serpente de Valéry se manifesta na busca incessante por eficiência. Empresas implementam metodologias como Lean, Six Sigma ou Agile, que otimizam processos até o limite. Mas, como a serpente, chega um ponto em que o gestor “reconhece o próprio gosto” — percebe que os ganhos marginais diminuem e que, para avançar, é preciso destruir o que foi construído e começar de novo. Isso ecoa o pensamento de Friedrich Nietzsche sobre o eterno retorno: “Tudo vai, tudo volta; eternamente gira a roda do ser”. Na gestão, esse eterno retorno é o ciclo de planejar, executar, revisar e reiniciar.

A IA também entra nesse cenário como ferramenta de gestão. Softwares de análise preditiva, por exemplo, devoram dados históricos para prever o futuro, mas, ao fazê-lo, podem prender as organizações em padrões do passado, como uma serpente que só sabe comer a si mesma. O desafio para o gestor moderno é romper esse ciclo, usando a tecnologia não como fim, mas como meio para uma visão estratégica que transcenda o autodigestivo.

Tecnologia e IA: o antídoto ou o novo veneno?

A IA é o ápice da serpente de Valéry. Treinada em vastos conjuntos de dados, ela processa o conhecimento humano e o regurgita em formas novas — ou nem tão novas assim. Como disse o poeta T.S. Eliot, “o conhecimento nos impõe um padrão e falsifica”. A IA, ao devorar o que já foi criado, corre o risco de falsificar a originalidade, preso em um loop de padrões reciclados. Isso nos remete ao paradoxo de Valéry: se a serpente chegasse à própria cabeça, o que restaria? Na IA, se ela se tornasse plenamente autorreferencial, poderia ainda gerar conhecimento genuíno?

O filósofo Jean Baudrillard, em Simulacros e Simulação, argumenta que vivemos em um mundo onde a realidade é substituída por representações dela mesma. A IA, nesse sentido, é o simulacro perfeito: devora a cauda da humanidade (seus dados) e entrega algo que parece novo, mas que, no fundo, é apenas um reflexo. Para romper esse ciclo, precisamos, como humanos, guiar a IA com intencionalidade, evitando que ela se perca em sua própria goela.

Hoje, vivemos uma verdadeira revolução nos meios e modos de produção jurídica:

• Ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT, Copilot, Gemmini e outros, estão reconfigurando a forma como produzimos peças, analisamos jurisprudência e até como interagimos com clientes.

• Softwares jurídicos integrados aos fluxos de trabalho automatizam tarefas repetitivas, liberando tempo para o que realmente importa: pensar, criar, interpretar.

• O marketing jurídico passou do panfleto e do “boca a boca” para a jornada digital do cliente, onde o conteúdo, a autoridade e a empatia pesam mais que a propaganda direta.

Mas atenção: sem um propósito claro, a IA pode virar apenas mais um anel da serpente — um ciclo vicioso de copiar, colar, repetir e esquecer de refletir. A automação sem estratégia vira apenas ruído. A IA sem ética é só um espelho da mediocridade coletiva.

Gestão e marketing: a quebra do ciclo começa aqui

No marketing jurídico, a metáfora de Valéry ganha contornos ainda mais intrigantes. Advogados e escritórios muitas vezes constroem marcas baseadas em autoridade e tradição, mas, na era digital, essa imagem é constantemente desafiada pela necessidade de se reinventar. Postagens em redes sociais, webinars e conteúdos otimizados para SEO tornam-se o “corpo” que o profissional devora para se manter relevante. Contudo, ao “reconhecer o próprio gosto” — ou seja, ao perceber que está apenas repetindo fórmulas —, o marketing jurídico corre o risco de se tornar uma caricatura de si mesmo.

Aqui, a IA surge como aliada e ameaça. Ferramentas como chatbots jurídicos ou geradores de conteúdo (pense em um Grok escrevendo posts para um escritório) podem acelerar a produção de materiais de marketing. Mas, se mal utilizadas, levam ao “absurdo” de Valéry: uma comunicação tão autorreferencial que perde a conexão com o cliente. O filósofo Martin Heidegger, em Ser e Tempo, alerta sobre a “inautenticidade” de viver apenas na superfície das coisas. No marketing jurídico, isso se traduz em estratégias que, ao se autodevorarem, esquecem o propósito humano do direito: servir à sociedade.

Em termos de gestão, o desafio é ainda maior. Quebrar o ciclo autodigestivo significa:

• Criar métricas que importam, não apenas relatórios bonitos;

• Promover uma cultura de inovação, onde erros não sejam punidos, mas analisados;

• Integrar tecnologia com propósito, não por modismo, mas por visão de futuro.

No marketing jurídico, a serpente aparece quando repetimos fórmulas prontas sem pensar no nosso público-alvo. Quando falamos mais de nós do que ouvimos nossos clientes. Quando criamos conteúdo para algoritmos, e não para pessoas.

Marketing não é autopromoção, é construção de valor. E valor não se mede apenas em cliques, mas em relacionamento e confiança.

A saída do labirinto: conhecimento aplicado

Se queremos sair do ciclo autodigestivo, precisamos de conhecimento que vá além da repetição. Precisamos de conhecimento aplicado. Aquele que resolve problemas reais, que transforma, que conecta.

Como consultor há mais de 18 anos, vejo isso na prática todos os dias:

• Escritórios que adotam IA com consciência colhem produtividade e estratégia;

• Departamentos que alinham marketing com a experiência do cliente fidelizam mais;

  • Equipes que integram jurídico, gestão, tecnologia e dados tomam decisões com inteligência — não por instinto, não por rotina.

Provocação: a serpente pode aprender a dançar

A serpente de Valéry é um convite à reflexão sobre como lidamos com tecnologia, gestão, marketing jurídico e IA. Em todas essas áreas, o risco da autofagia está presente: inovamos, otimizamos e comunicamos até reconhecer o “próprio gosto”, mas, sem uma pausa crítica, voltamos ao ciclo de nos devorar. A solução não está em parar de avançar, mas em transcendê-lo, como sugere o estoicismo de Sêneca: “Não é porque as coisas são difíceis que não ousamos, mas porque não ousamos que elas são difíceis”.

Que possamos, então, usar essas ferramentas não para nos consumir, mas para nos elevar, rompendo o círculo autodigestivo em direção a um conhecimento que seja, ao mesmo tempo, novo e humano. 

Paul Valéry não propõe uma resposta, mas provoca a reflexão. E é isso que desejo aqui: provocar.

A serpente que se devora também pode aprender a dançar. Pode parar, olhar para fora de si, experimentar novos sabores, novas ideias, novas formas de conhecimento.

No direito, na gestão, no marketing ou na tecnologia, o ciclo só se rompe quando temos coragem de parar de repetir e começamos a construir.

E como diria Sócrates: “O verdadeiro conhecimento vem de dentro.” Mas ele só faz sentido quando se encontra com o mundo.

Afinal, como Valéry provoca, a teoria do conhecimento não é apenas devorar-se, mas entender por que o fazemos — e o que podemos criar além disso.

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