Qual a sua fantasia de advogado?

maxresdefault2-1110x571Uso muito esta frase de “fantasia de advogado”, para representar a roupa que o advogado tem que usar para ser reconhecido como profissional.

Além do terno, gravata, ou saia ou tailleur, temos que pensar em como somos vistos como profissionais, não é mesmo?

Um texto de Mia Couto nos traz uma reflexão neste sentido:

Por um Mundo Escutador

Não existe alternativa: a globalização começou com o primeiro homem. O primeiro homem (se é que alguma vez existiu «um primeiro» homem) era já a humanidade inteira. Essa humanidade produziu infinitas respostas adaptativas. O que podemos fazer, nos dias de hoje, é responder à globalização desumanizante com uma outra globalização, feita à nossa maneira e com os nossos propósitos. Não tanto para contrapor. Mas para criar um mundo plural em que todos possam mundializar e ser mundializados. Sem hegemonia, sem dominação. Um mundo que escuta as vozes diversas, em que todos são, em simultâneo, centro e periferia.

Só há um caminho. Que não é o da imposição. Mas o da sedução. Os outros necessitam conhecer-nos. Porque até aqui «eles» conhecem uma miragem. O nosso retrato – o retrato feito pelos «outros» – foi produzido pela sedimentação de estereótipos. Pior do que a ignorância é essa presunção de saber. O que se globalizou foi, antes de mais, essa ignorância disfarçada de arrogância. Não é o rosto mas a máscara que se veicula como retrato.
A questão é, portanto, a de um outro conhecimento. Se os outros nos conhecerem, se escutarem a nossa voz e, sobretudo, se encontrarem nessa descoberta um motivo de prazer, só então estaremos criando esse território de diversidade e de particularidade.

O problema parece ser o de que nós próprios — os do Terceiro Mundo — nos conhecemos mal. Mais grave ainda: muitos de nós nos olhamos com os olhos dos outros. Um velho ditado africano avisa: não necessitamos de espelho para olhar o que trazemos no pulso. A visão que temos da nossa História e das nossas dinâmicas não foi por nós construída. Não é nossa. Pedimos emprestado aos outros a lógica que levou à nossa própria exclusão e à mistificação do nosso mundo periférico. Temos que aprender a pensar e sentir de acordo com uma racionalidade que seja nossa e que exprima a nossa individualidade.

Fomos empurrados para definir aquilo que se chamam «identidades». Deram-nos para isso um espelho viciado. Só parece reflectir a «nossa» imagem porque o nosso olhar foi educado a identificarmo-nos de uma certa maneira. O espelho deforma o que trazemos amarrado no pulso. Pior que isso: amarra-nos o pulso. E aprisiona o olhar. Onde deveríamos ver dinâmicas vislumbramos essências, onde deveríamos descobrir processos apenas notamos imobilidade.

Mia Couto, in ‘Pensatempos’

 

E qual a sua identidade como advogado? Uma roupa? Conhecido por ser sisudo? Por ser competente? Por ser bom no que faz?

E o que isto representa na sua vida? Fama? Dinheiro? Sucesso? Status?

Isto define você?

Claro que não. Isto no máximo poderia definir parte da sua vida profissional.

A sua identidade profissional é montada a partir de seus valores morais e éticos, das suas verdades interiores, daquilo que você pratica na sua vida e no seu dia a dia, além do seu conhecimento, além da sua postura, além inclusive, da sua fantasia (roupa).

E por ser tão complexa e completa, você não deve descuidar de todos os seus fatores.

Quantos profissionais focam em estudar, em montar escritórios, em crescer em grandes bancas e esquecem de si mesmos? Como ser um bom profissional se o seu interior, seu âmago não cresceu junto?

Aí teremos literalmente um profissional fantasia: Acha que cresceu, quando em fato apenas parte de si se desenvolveu.

Neste sentido temos inúmeros exemplos de imaturidade emocional, que vão desde a falta de saber conviver em grupo, como não lidar com frustrações, como não saber entender a dinâmica de funcionamento em grupo, etc.

Não conseguimos nos dissociar do que somos. Somos profissional e pessoal, na mesma pessoa, ao mesmo tempo. É fantasioso pensar diferente disto. E de fantasias, já basta a de roupa, não é mesmo?

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Artigo escrito por Gustavo Rocha

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